Hey pessoal!
A nossa série de entrevistas continua! Hoje temos uma super entrevista realizada pelo Projeto de Mentoria em Enfermagem, feito pela aluna Bianca Evillyn, que conversou com a enfermeira Luma.
A Enfermeira Luma Natalia Barbosa Rodrigues, estudou na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e se formou em 2010. Hoje ela trabalha na Secretaria de Segurança Pública (SESP)- Enfermaria do presídio CRC ( Centro de Ressocialização de Cuibá). Está na linha de frente no combate á COVID-19!
Team Mentoria
De que forma/que mudanças estão
ocorrendo no dia a dia do seu local de trabalho desde que iniciou a atual
pandemia do COVID-19? Novas demandas? Novos protocolos? Desafios? Preocupações?
Biossegurança?
Desde que o COVID-19 chegou ao
Brasil nosso setor adotou medidas mais rigorosas no que concerne a
biossegurança em nosso setor de saúde. Onde trabalho configura-se como uma
Unidade de Atenção Básica de Saúde Prisional, ou seja, prestamos assistência
básica (primária) aos privados de liberdade, temos atualmente aprox. 1300
detentos em nossa unidade e 250 servidores. Não tivemos apoio da Secretaria de
Saúde (municipal e/ou estadual), nossas ações foram graças a uma Associação da
Comunidade que envolve os familiares dos reeducandos e servidores da SESP, que
nos ajudaram com as compras: termômetro infravermelho, álcool 70%, luvas,
máscaras a todos servidores, máscaras aos "casos suspeitos", sabonete
líquido (pasmem não tínhamos isso antes), papel toalha (também não tínhamos),
lençol descartável para os pacientes, avental descartável aos profissionais,
toucas. Infelizmente óculos de proteção não conseguimos por ausência no
mercado. Graças a uma excelente parceria SEGURANÇA E SAÚDE (no âmbito da SESP,
não das Secretarias de Saúde não), conseguimos promover um ciclo de palestras
nos 4 plantões de Agentes Penitenciários sobre medidas de prevenção, bem como adotamos
uma rotina de solicitar aos reeducandos que lavem diariamente as alas e grades
com água sanitária (penso que isso tem contribuído muito, pois ainda não temos
casos confirmados), as visitas externas foram canceladas, o que também
contribui muito para que o reeducando não tenha contato com o mundo externo.
Também criamos um centro de triagem, cujo reeducando NOVO fica por 14 dias para
ser acompanhado antes de entrar para os demais presídios, assim não misturamos
quem está confinado com quem está chegando da rua. Também mudamos a rotina de
atendimento, hoje estamos atendendo as demais sintomáticas relacionadas as
doenças respiratórias, e o que é ELETIVO terá que esperar. Ainda temos muitas
emergências psiquiátricas, pois isso não tem como parar. Penso que o maior
DESAFIO está em conscientizar sobre a real importância da prevenção, pois as
questões políticas hoje no nosso país estão inviabilizando trazer as pessoas a
luz do que de fato esse vírus é e sua prevenção. Um presídio não para, mas,
podemos sim mudar hábitos e melhorar as chances de que ele não chegue lá, mas
não temos muito apoio dos pares, por estarmos em um local de alta
periculosidade, isso precisa ser melhorado.
Tem afetado também
sua vida pessoal/familiar? De que forma? Se você quiser, pode discorrer sobre
as preocupações envolvidas.
Enfermeira Luma
Sim, pois adotamos medidas dentro da
nossa casa, como retirar as roupas e calçados antes de entrar, sempre que vamos
ao serviço e retornamos temos que lavar todos os utensílios usados, roupas,
jalecos, etc. Também não tenho tido contato com familiares e amigos, por sermos
pessoas muito expostas ao vírus. Penso que também há a preocupação com como o
sistema de saúde brasileiro responderá a essa Pandemia, e o equilíbrio disso
tudo com as questões econômicas, pois já percebemos reflexos disso no cotidiano
nas contas a pagar.
Que dica você deixa para nós
(estudantes e comunidade em geral) em relação aos cuidados frente ao COVID-19?
Enfermeira Luma
Penso que a academia tem como
principal responsabilidade nesse momento participar da construção de
oportunidades a sociedade, no que tange a doença como meios de transmissão,
cuidados básicos, vídeos educativos, imagens educativas, entre outros, bem como
com as questões econômicas, como pensar estratégias para servirem de suporte à sociedade,
tais como caminhos de produção de meios de sobrevivência durante a crise,
dentro de casa, para que as pessoas não adoeçam (biologicamente e
psicologicamente). Devo toda minha formação a uma universidade pública, e penso
que mais do que nunca nesse momento o meio acadêmico precisa contribuir de
forma positiva diante da crise, seja através de ações educativas, seja através
de projetos (mesmo que a distância), o que não podemos é nos deixar perder por
questões pueris, precisamos amadurecer e pensar estratégias para resolução da
crise.
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