Hello peopleeeee!

Voltamos com uma entrevista bem legal para vocês :)


A nossa entrevistada é a Enfermeira Jéssica dos Santos Guedes, graduada em Enfermagem pela Universidade de Brasília - Campus Ceilândia em 2019. Atua como Residente do programa de Oncologia pelo IGES-DF no Hospital de Base - setor de Hematologia.


Vamos conferir o que ela tem para nos contar?


Team Mentoria:

De que forma ou quais mudanças estão ocorrendo no dia a dia do seu local de trabalho desde que iniciou a atual pandemia de COVID-19? Novas demandas? Novos protocolos? Desafios? Preocupações?

Enfermeira Jéssica:

    "Basicamente o impacto da pandemia nos serviços de saúde foi sentido principalmente quando o GDF decidiu fechar o comércio e propor o isolamento social para a população. Nós, os profissionais de saúde fazíamos parte da minoria que necessitava sair do isolamento para trabalhar, então foi perceptível a diferença. Além disso, as regras do hospital mudaram, acompanhantes e visitantes já não são permitidos, as refeições já não podem ser coletivas e diversas outras mudanças. 

    Inicialmente apenas zonas “covidárias” atendiam pacientes infectados, e como minha atuação era na internação, meu maior contato era com suspeitos que rapidamente eram encaminhados para a zona de tratamento especial. Me lembro do primeiro paciente com caso de suspeita que ficou sob os meus cuidados, simplesmente uma equipe enorme do hospital precisava ser mobilizada para o deslocamento e transferência desse paciente. Todo lugar que ele passava, a equipe de limpeza especial acompanhava realizando a higienização do local.

    Por ser uma doença nova, os protocolos são atualizados constantemente e vivemos na incerteza de qual é a melhor assistência para aquele paciente. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar mostrou o seu brilhante papel de atuação nos ambientes de saúde, se empenhando para manter os profissionais treinados, os protocolos atualizados de acordo com embasamento científico e preparando todos para o pico da doença.

    Pouco a pouco sentimos que as coisas estavam agravando e entrávamos em contato cada vez mais com infectados e suspeitas na internação. Após passar pelo estágio de cuidado com pacientes infectados, vimos diariamente pessoas da equipe sendo contaminadas e necessitando serem afastadas de seus postos de trabalho, inclusive eu! Realmente foi a parte mais difícil."

Team Mentoria:

Como que está a questão da Biossegurança? Os EPI’s necessários estão disponíveis? São suficientes para atender a demanda de toda a equipe?

Enfermeira Jéssica:

    "É interessante falarmos sobre isso, pois inicialmente o desespero tomou conta de todos. Todos nós implorávamos pela N-95 e outros EPI’s. Nesse momento o gestor precisou agir com cautela para evitar alarmes extremos sem que a equipe fosse exposta a grandes riscos. Aos poucos as equipes foram equipadas, mas o racionamento era certo. Eu vi o hospital não ter suprimentos suficientes para assistência básica de pacientes.

    Alguns profissionais foram afastados da assistência popularmente chamada de “beira-leito” por não serem considerados da linha de frente da assistência. Logo, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais necessitaram adequar seus atendimentos. Isso foi uma decisão difícil e que impactou toda a assistência, pois nós sabemos a importância da equipe multiprofissional nos atendimentos de saúde. Ficou, então, pactuado que o profissional da linha de frente prestaria um atendimento “multi” dentro de suas limitações. Foi uma tentativa de não penalizar a assistência que fomos nos adaptando aos poucos."

Team Mentoria:

O atual cenário tem afetado sua vida pessoal/familiar? De que forma?


Enfermeira Jéssica:

    "Para quem não conhece a rotina da residência, ela propõe uma carga horária de 60h semanais, que eu considero bastante pesada e que exige para manutenção da saúde mental um certo equilíbrio das atividades e bom aproveitamento das folgas semanais.

    Quando a pandemia de fato teve seu ápice em Brasília, nós presenciávamos situações diversas em ambientes estressantes, demandas de serviço dobrados, pois muitos profissionais foram afastados por estarem em grupos de riscos. 

    Em casa evitávamos contato com os familiares, não podíamos visitar os amigos e isso aos poucos foi agravando em instabilidade emocional e dificuldade em lidar com a situação atual. De fato, esse foi e está sendo o meu maior desafio."


Team Mentoria:

Qual a sua visão à respeito da valorização da Enfermagem antes da pandemia e agora, durante a pandemia?

Enfermeira Jéssica:

    "2020 é o ano da enfermagem e não tenho como discordar. Eu sou recém-formada e venho percebendo a evolução e a garra que nossa categoria profissional está apresentando para conquistar direitos básicos e a valorização da profissão. Diante da pandemia, a população presenciou a importância da enfermagem nos ambientes de saúde, o que proporcionou um engrandecimento da enfermagem e abriu caminhos para obtenção de direitos que lutamos por anos.

    Apesar desse cenário, nós devemos ter cuidado com a bandeira que levantamos. Muitos anos atrás nos apegamos ao fato de que a enfermagem era por amor e sofremos os impactos dessa abordagem até os dias de hoje. 

    A enfermagem é além de amor e empatia, sim, é prática baseada em evidências, conhecimento científico e uma profissão que merece ter seu conhecimento valorizado.  Nessa pandemia alguns levantaram o slogan que somos os heróis da sociedade, o que vem a ser um bom prestígio e reconhecimento, mas deve ser utilizado com cautela. A visão de herói que é passada diz respeito a voluntários com características sobrenaturais, seres que vivem para servir a comunidade a troco de nada, pois heróis não precisam ser recompensados. Mas nós somos humanos, estudamos muito para sermos considerados enfermeiros e merecemos bem mais do que só o título de heróis.

    Aproveitar esse momento para adquirir direitos para profissão é excelente. Nós estamos em evidência, nossa assistência está em evidência e precisamos lutar antes de perdemos essa visibilidade (Esperança que não se perca!)."


Team Mentoria:

Que dica vocês pode deixar para os estudantes e também para a comunidade em geral em relação aos cuidados frente à Covid-19? E sobre as Fake News que tanto amedrontam a população?


Enfermeira Jéssica:

    "Fique em casa! Se você tiver condições, isso é bem maior do que sua vontade própria, isso diz respeito à responsabilidade coletiva. Doenças pandêmicas são sérias e podem levar à morte de grande parte da população. Respeitar as medidas de isolamento social é essencial. 

    Não esqueçam de higienizar as mãos como uma prática constante, usem máscara se necessitarem sair de casa e se cuidem e cuidem do próximo; esse é um momento que a empatia deve sobressair.

    A COVID-19 é algo muito novo e inexplorado, muitas pesquisas estão em curso e isso nos possibilita realizar a melhor assistência possível. Quando necessitarem de informações procurem canais de informação confiáveis. O Ministério da Saúde em parceria com as Secretarias vêm propondo estratégias que auxiliam a população com informações verídicas e manejo de pessoas sintomáticas.

    No mais, mantenham a calma, isso vai passar, cada um deve fazer a sua parte. Não sejam extremistas, sejam sensatos. Estamos todos juntos nessa!"


Esperamos que tenham gostado dessa entrevista incrível!

Sucessooooo Jéssica :)


Créditos à mentorada Bianca Evellyn pela entrevista.